Pouco tempo após ter completado o Ensino Fundamental, Roberto Zirke, aos 16 anos, começou a trabalhar na estamparia da Florisa, empresa brusquense tradicional do ramo têxtil. A oportunidade havia surgido porque a família proprietária da empresa, vizinha da família Zirke, ofereceu a vaga. Sua carreira havia iniciado em 16 de março de 1977. Em 26 de abril de 2018, 15.015 dias depois, a reportagem do jornal O Município fez uma visita, para conhecer a história do mais antigo funcionário da fábrica.

São 41 anos de carreira e 57 de vida, tendo passado por praticamente todas as etapas da linha de produção. Roberto Zirke começou na estamparia, recebendo os tapetes estampados para pendurá-los no varal e esperar a secagem. Desde 1995, seu trabalho é no acabamento das malhas, no processo de pré-encolhimento. Ele opera uma máquina que deixa as malhas mais compactas, de maneira que não encolham tanto após a lavagem. A partir de então, os produtos são levados aos testes de laboratório.

Zirke trabalha no primeiro turno da fábrica. Ou seja, dorme por volta das 22h para acordar entre 4h e 4h30 e iniciar os trabalhos às 5h. Sai da fábrica às 13h. Já são 30 anos neste turno. “De manhã eu vou caminhando, pela idade. É a recomendação do médico (risos). À tarde, venho de carona com um vizinho”, explica.

Seu trabalho evoluiu nestes 41 anos, com as inovações tecnológicas. A fábrica se tornou cada vez menos um ambiente inóspito. Para se manter atualizado, fez cursos técnicos, com o apoio da empresa na capacitação. “A empresa sempre foi muito correta, nunca atrasou um salário, nunca deixou de me dar férias, nem nos piores momentos. Nossas famílias eram vizinhas, crescemos juntos. Meu falecido pai chegou a vender um terreno para os donos da Florisa.”

Zirke fez cursos de capacitação para acompanhar as inovações tecnológicas que chegavam à fabrica | Foto: João Vítor Roberge

O operador se lembra que, quando estava há cerca de três anos na empresa, seu pai tentou lhe levar para a Buettner, onde trabalhava. Uma ficha de inscrição para a vaga chegou a ser preenchida. “Quando soube da barulheira forte da tecelagem, já disse ‘pai, sinto muito, mas vou continuar na Florisa’. Aqui era mais tranquilo.”

Uma história da qual não esquece na empresa é uma pegadinha aplicada por um dos colegas, entre 1981 e 1982. “Numa época de muito frio, inverno, ele pegou alguns papelões, pôs no banheiro e botou fogo. Aí começou a fumaça, e nós levamos um susto, saímos correndo com os extintores para apagar, e daqui a pouco ele saiu rindo da nossa cara (risos). Na época, trabalhávamos todos juntos numa sala, na estamparia. A gente aprontava essas histórias, pra brincar, descontrair.”

O trabalhador se lembra também de que teve uma infância e uma adolescência confortáveis, “bem vividas”, como fala. Em 1979, quando iria completar 19 anos, se alistou no serviço militar e serviu no Tiro de Guerra. Para ele, foi uma época divertida, em que começou a formar sua família. Sua esposa, inclusive, trabalha há quase 14 anos com a limpeza na Florisa. Tem duas filhas e um filho, que também atua na Florisa, mas na parte de laboratório. Trabalha das 22h às 5h, justamente quando o pai começa o serviço.

Zirke irá completar 60 anos em 2020, quando pretende parar de trabalhar para receber a aposentadoria integral. No entanto, a reforma da previdência ainda é uma ameaça. “Se os políticos não mexerem na previdência, me aposento em dois anos. Aí posso começar a descansar. Não que meu trabalho seja cansativo, mas é algo que exige sempre uma concentração”.

Após uma vida de dedicação, o operador torce contra a reforma da previdência para poder se aposentar | Foto

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